domingo, 21 de fevereiro de 2010

O caminho para o inferno.....agora é mais curto

A minha vida de crítico baseada no ceticismo não é nada fácil, mas é assim mesmo,
quem estuda História acaba se traindo com a Sociologia.
PARABÉNS!! PARABÉNS!! A medíocre utopia está
quase pronta.........
Após ler a Zero Hora deste último sábado me barbarizei,
mas muito mais do que isso me decepicionei com a
condição humana, TÃO MEDÍOCRE E DESPROVIDA
DE INFORMAÇÕES.....
Acredite quem quiser: "apartir de 2011(leia-se aqui
Janeiro) o limite de velocidade na Freeway passará a ser
120 Km/h"...
Quanta ignorância e desinformação reunidas juntas!
Reflitam:
1º) Estamos em um terrítório com desníveis geotécnicos
bastante acentuados;
2º) Auto estradas de fluxo rápido que comportam
velocidades alta existem basicamente na Europa,
Roma...França...Madrid...Londres...Berlin, ou seja, nos
grandes centros;
3º) NÃO EXISTEM NO BRASIL CONDUTORES
CAPACITADOS TÉCNICAMENTE E
PSICOLÓGICAMENTE PARA PERCORREREM A TAL
VELOCIDADE;
4º)NÃO EXISTEM NO BRASIL VEÍCULOS CAPAZES
DE PRODUZIREM SATISFATÓRIAMENTE TAIS
VELOCIDADES;
AGORA LÁ VAI: EXISTE SIM UM PEDÁGIO NA
FREEWAY QUE MUITO LUCRA, E QUE PELO JEITO
QUER LUCRAR AINDA MAIS...(é o modelo atual, o
capitalismo = acúmulo de capitais)......
Então....meus amigos....pensem muito bem antes
projetarem os 120 Km/h tão ambicionado pelo Srº
Odenir Sanches (diretor - presidfente da Concepa).....
Por fala nisto, que baita cargo hein tchê! Pena a
inteligência e a lucidez não o acompanha!
Pelo amor ao próximo, reflitam!
Enquanto isto esperamos que a ANTT (Agência
Nacional de Transportes Terrestres) não autorize está
barbárie!
Um abraço a todos!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

As crianças na Roma Antiga...

Olá pessoal, neste texto está contida uma análise minha sobre as características da infância na Roma antiga. O texto é de linguagem clara e coloquial, só representa ser denso, porém não é. Boa leitura!

Roma na antiguidade: Uma abordagem sobre as representações infanto-juvenis nos séculos I, II e III

Este estudo pretende reconstruir aspectos culturais da Roma antiga, visando dissertar sobre a presença infanto-juvenil nos três primeiros séculos da era cristã. Nesta abordagem será retratado o cotidiano e o contexto social no qual as crianças romanas estavam inseridas desde o nascimento até a juventude, portanto este estudo utiliza-se do embasamento teórico da nova história cultural que dá suporte às particularidades iconográficas e práticas culturais dessa sociedade.
Palavras chave: Roma antiga – crianças – infância - representações
Neste estudo o objetivo encontra-se pesquisar, analisar e mostrar como as crianças romanas estavam inseridas na sociedade nos três primeiros séculos da era cristã. Visando assim dissertar sobre os aspectos infanto-juvenis no cotidiano, na família, na religião e nas práticas culturais da vida pública e privada, ou seja, o objetivo é reconstruir as características da história das crianças e dos jovens no império romano, enfatizando as particularidades de Roma.
Para elaboração desta pesquisa foram utilizados livros teóricos que integram a historiografia contemporânea sobre a antiguidade pelo viés da história cultural, portanto as fontes utilizadas são integralmente secundárias e textuais. Este estudo enfatiza os aspectos culturais para a construção dessa abordagem, usando-se do aporte teórico da nova história cultural que permite este estudo da história a partir das crianças, dos seus valores, sentimentos, mentalidade e das imagens que fazem representação a este período.
O estudo e leitura das imagens deste período possibilitaram o fornecimento de muitas informações a partir de questionamentos, tendo a representação destas figuras permitido estudar e fazer uma análise crítica, bem como uma abordagem sobre estas representações que retratam as crianças e a infância romana, as relações de poder exercido sobre elas, os aspectos de submissão, os sentimentos, o cotidiano e principalmente o que representavam na sociedade, resultando assim no resgate dos aspectos culturais da história das crianças.
O império romano foi caracterizado pela articulação entre a estrutura do Estado escravista e guerreiro e as sucessivas guerras vitoriosas com seus vizinhos em torno do mediterrâneo. Nestes três primeiros séculos da era cristã a própria identidade cultural estava em expansão na vã tentativa de formar uma unidade cultural nos territórios ao longo do mediterrâneo, o poder monárquico se encontrava em relativa fragmentação, pois as sucessões ocorriam muito rapidamente fazendo não haver uma centralização do império sob a égide de um único monarca. Neste contexto tem se também a presença da religião cristã em formação, que firmou suas bases na primeira metade do século III, a partir da penetração de suas raízes em meio à elite romana que lhe permitiu difundir suas idéias e assim propagar um grande desenvolvimento.
As crianças estudadas e analisadas fazem parte desse contexto apresentado, onde elas são representadas através de imagens de miniaturas de adultos, praticando ações geralmente desenvolvidas por adultos. A partir desta visão surgem questionamentos como, porque eram representadas assim? O que significavam na sociedade? Qual sua presença no cotidiano romano? Porque há uma carência sobre esta história na historiografia? O que era submisso, as crianças ou a infância? Quais os textos representados nas imagens? Estas são algumas questões que merecem pesquisa e estudo na tentativa de reconstruir aspectos da história das crianças na Roma antiga do século I ao III.
As formas de concepção de uma criança na sociedade eram estabelecidas pela procriação natural ou pela adoção, sendo as parteiras as próprias escravas, que faziam o parto na casa da família, uma vez que não existiam hospitais para estes fins. Depois de nascido, a mãe e a escrava amamentavam o bebê se ele fosse aceito, o pai às vezes passeava com a criança ao colo, como um novo objeto em exposição. A cesariana, hoje conhecida, é um legado da antiguidade para a contemporaneidade, pois esta prática cultural teve sua origem na sociedade romana, quando um dos doze cesares estava em processo de nascimento ocorram algumas complicações no parto, necessitando assim fazer uma cirurgia para a retirada do bebê
2 que nasceu e sobreviveu perfeitamente.
O aborto e a contracepção, o ser aceito ou não eram práticas comuns entre os romanos, pois a família patriarcal era muito forte, sempre prevalecendo a vontade do pai, portanto esta prática cultural plausível só era mal vista se:
“...nem a contracepção nem o aborto, por si mesmos, eram tratados como ilegais...Tal prática só seria considerada crime se fosse levada a cabo contra a vontade do marido. Era ele, e não o feto, a parte ofendida...” (MOCELLIN; pg.44, 2000).
Então se o pai levantasse a criança no colo
3 significaria que foi aceita para fazer parte da família, caso contrário seria rejeitada e colocada na rua como qualquer objeto estragado que se põe no lixo. Geralmente eram rejeitadas pelos aspectos físicos de seu corpo, ou pela própria condição da família ao aspecto financeiro ou testamentário, ou ainda se houvesse suspeita de traição da esposa, ou pelo simples fato de não aumentar a família. A rejeição também ocorreu na sociedade romana por aspectos políticos que influenciaram a essa negação sobre as crianças, como: “...após o assassinato de Agripina por seu filho Nero, um desconhecido abandonou em pleno foro um bebê com um cartaz onde se lia: Não te crio com medo de que mates tua mãe...” (ARIÈS; pg.25, 2002).
Depois de rejeitadas pela família, essas crianças geralmente morriam de fome e por conseqüência de doenças, porém as crianças que estivessem largadas na rua poderiam ser adotadas, tanto para fins escravocratas como para servirem de filhos, que aí passavam a pertencer à família adotiva. Os ricos da elite que rejeitavam as crianças não queriam obter informações sobre os abandonados, já as famílias mais pobres, que muitas vezes abandonavam devido ao baixo poder aquisitivo procuravam manter contato com a criança, assim para facilitar essa ligação entre a família e o abandonado, doavam os recém-nascidos para amigos, vizinhos e conhecidos.
A adoção na sociedade romana existiu entre permanências e rupturas, onde alguns imperadores aceitavam como uma ação comum e natural, já outros não tinham essa mesma mentalidade, uma vez que adotar significaria pedir a religião e a lei àquilo que da natureza não pôde obter-se. Tendo o ato de adotar uma criança diversos fins objetivos, como ter um filho visando o amor e carinho, uma estratégica política ou religiosa, a necessidade de ter herdeiro e também constituía uma maneira fácil de obter escravos.
Nestas questões sociais da contracepção, do aborto, do abandono e da própria tentativa de prevenção foram reprimidas e mal vistas por alguns da sociedade, como os moralistas estóicos que iam contra a rejeição dos filhos, e sendo esta questão tratada também na contemporaneidade pelo viés populacional que teria se não houvesse estas práticas negativas, como Alfred Sauvy escreveu “... Pelo que hoje sabemos sobre o poder multiplicador da espécie humana, a população do Império teria se multiplicado muito mais e ultrapassado seus limites...” (ARIÈS; pg.26, 2002).
Os que não desejassem ter filhos aderiam às práticas médicas que prescreviam supostas prevenções para não engravidar, mas que geralmente não funcionavam, como:
“...Sorano, célebre médico, indicava que para impedir a concepção era necessário besuntar o orifício do útero com azeite, mel resina de cedro ou suco de abeto balsâmico. Já Dioscórides catalogava diversas receitas contraceptivas tais como: goma de cedro, alúmen e erva silvestre com mel e mistura gomosa de hortelã e pimenta...” (MOCELLIN; pg.43, 2000).
Segundo um cristão, Tertuliano, a fellatio
4 era uma prática de antropofagia que era visto como um infanticídio, afinal tinha se estabelecido pela lei romana o ideal de três filhos, então os que utilizavam esses espermicidas sem ter ao menos os três filhos eram visados pelos cristãos como assassinos.
Sob os moldes de pensamento romano o parentesco era definido na sociedade por um conjunto de pessoas que se interligavam pelo mesmo culto religioso, sendo assim, o filho pertencia inteiramente ao pai, uma vez que o primeiro culto de uma criança ocorria no seu nono dia de vida, tendo esse culto doméstico o ideal de purificá-la dos genes do mal, como a própria gestação que havia passado que era considerado um pecado maculador.
Após crescerem um pouco, as crianças ganhavam brinquedos tais como, bonecas, bonecos, pássaros em miniatura, bolas, carros de corrida, coelhinhos vivos para puxarem, cavalinhos de pau, piões, rodas que faziam andar por meio de bastõezinhos, jogos de par ou ímpar com castanhas entre outros brinquedos, sendo o que existia no cotidiano romano tentado reduzir ao máximo para servir de brinquedo, é perceptível que estes brinquedos
5 já faziam representação de uma realidade até então desconhecida pelas crianças, mas tão vivida pelos adultos. Até os sete anos de idade as crianças usavam as bulas6 penduradas no pescoço, que era um medalhão utilizado como amuleto da sorte.
O meio de inserção social, a educação e a subsistência das crianças ficava confiado as nutrizes
7 e pedagogos8 até a fase da puberdade ou fase adulta. O nutriz e o pedagogo eram encarregados de suprirem todas as necessidades das crianças, segundo o historiador Ariès, a nutriz, o pedagogo e o irmão de leite formavam uma vice-família, uma vez que as crianças mantinham afeto com estes e relações hostis com as tias, tios e avôs por conseqüência da severidade destes.
A toga foi à vestimenta de maior uso entre os romanos do tempo do império, assim como os adultos homens e mulheres as crianças também usavam este tipo de vestimenta, pois não se tinha um gênero infantil de moda, aí se percebe mais uma representação de projetar nas crianças o ideal “ser romano adulto”, que então seria a fase importante da vida. O palium, uma imitação dos mantos gregos aos poucos foi substituindo as togas, sendo que entre os “guris” a toga era utilizada até os dezesseis ou dezessete anos, tendo que ser substituída pela toga viril que representava a masculinidade, sendo nesta idade também que tiravam pela primeira vez a barba juntamente com um ritual religioso.
A infância não é explicada como um fato social à parte, mas sim como um disfarce de crianças vestidas de militares, guerreiros, marinheiros, enfim idealizavam a visão de um tipo ideal para a sociedade, formando assim miniaturas de adultos como é representado nas imagens
9 deste período, onde as crianças tinham a fisionomia de adultos, a vestimenta de adultos e os brinquedos denotavam as práticas desenvolvidas pelos adultos. Segundo o direito romano, as crianças e jovens estavam divididos distintamente na sociedade em três fases ou períodos de acordo com a faixa etária, como explica Funari:
“...os meninos, os impúberes e os menores de vinte e cinco anos. A criança é aquela que não fala, o que nós chamaríamos de bebê. O impúbere, antes da puberdade ou nascimento dos pêlos, estava, necessariamente, sob a autoridade do pai ou de um tutor. A partir daí até os vinte e cinco anos, era quase um adulto...” (FUNARI; pg.101, 2001).
O aprendizado variava conforme a classe social e o sexo, geralmente a educação das crianças da elite era feita em casa, com professores particulares, os pedagogos, e as outras necessidades da criança era feita pela nutriz, tendo assim formado um certo afastamento afetivo dos filhos em relação à família, porém estes aspectos não formaram uma permanência nem mesmo uma generalidade, como a educação dada por Catão ao seu filho no século II:
“...Tão logo Catão tinha um filho, somente algum negócio de estado urgente o impedia de estar presente quando sua esposa banhava e vestia o bebê. A mãe amamentava ela própria o bebê e, muitas vezes, fazia o mesmo com os filhos das escravas para que, criando todos juntos, se tornassem amigos. Logo que o menino podia entender, Catão tomava conta pessoalmente do menino, ensinando a ler, ainda que tivesse um escravo inteligente, Quilão, que era professor e tinha diversos alunos. Catão considerava que não era certo seu filho depender de um escravo para aprender, nem dever seu conhecimento a um escravo. Não apenas ensinou seu filho a lutar e andar a cavalo como a lutar boxe, agüentar o calor e o frio, nadar contra-corrente. Escreveu um livro de História de Roma, em letras maiúsculas, para que seu filho pudesse aprender as tradições romanas em casa. (Plutarco, Vida de Catão,20,3-6)...” (FUNARI; pg.100/101, 2001).
As classes de menor poder aquisitivo não tinham condições de estudar toda uma diversidade de saberes igual à elite, mas freqüentavam as escolas
10 populares pois não obtinham professores particulares, tendo aprendido nestas escolas o latim vulgar e um ensino básico e complementar para uma vida social, sendo denominados iletrados11. Esses alunos que freqüentavam as escolas públicas levavam em uma maletinha o que se usaria como material escolar, como tinteiro, penas, cadernos de madeira e na escola havia alguns livros que poderiam utilizar para o estudo. No âmbito escolar também se faziam brincadeiras como “par ou ímpar” com castanhas, brincavam com bolas e carregavam uns aos outros nas costas.
As crianças que faziam parte da elite aristocrática, aprendiam sobre a retórica, oratória, agricultura, astronomia, religião, geografia, matemática, arquitetura, latim e grego entre outros conhecimentos, sendo considerados os letrados
12. A diferença entre a educação grega e romana era baseada pela música e pelos esportes, que aconteciam nos ginásios, estes eram os aspectos que tinham na educação da cultura helenística e não perpetuaram para a romana, sendo que para serem os ditos “cultos”, os romanos teriam que aprender a língua grega, porém os gregos não teriam que aprender o latim para terem o conceito de “cultos”.
As mulheres enquanto crianças já tinham uma inferioridade em relação aos homens, pois não recebiam um nome próprio ou criado para elas, mas sim o nome do pai no gênero feminino, como mostra Finley:
“...Para começar, as mulheres não possuíam nomes individuais propriamente ditos até uma época relativamente tardia da história romana. Cláudia, Júlia, Cornélia, Lucrecia são simplesmente sobrenomes com uma terminação feminina. As irmãs tinham o mesmo nome, e só podiam ser distinguidas por meio de epítetos como “a mais velha”, “a mais nova”, “a primeira”, “a segunda”, e assim por diante. No caso, não tão incomum, de casamento entre primos pelo lado paterno, mãe e filha também teriam o mesmo nome. Não há dúvida de que isso causava grande confusão e, somos tentados a sugerir, uma confusão desejada, visto que nada seria tão fácil modificar. Não era preciso ser um gênio para ter a idéia de dar a toda menina um nome pessoal, como se fazia com os meninos. É como se os romanos quisessem sugerir, não muito sutilmente, que as mulheres não eram ou não deveriam ser indivíduos genuínos, mas apenas frações de uma família. E frações anônimas e passivas visto que as virtudes encorajadas eram o decoro, a castidade, a graça, a serenidade e a fertilidade...” (MOCELLIN; pg.38, 2000).
As filhas estudavam literatura e música, e aprendiam a tecer e fiar, já aos doze anos estavam prontas para o casamento, sendo que o pai
13 escolhia o marido. As meninas e jovens não puderam participar das hierarquias políticas e muito pouco nas eclesiásticas, quase não havendo assim sua presença na sociedade através de escritos documentais que pudesse hoje nos revelar mais sobre a presença deste gênero no meio social, porém na cidade de Pompéia foram encontradas através de escavações arqueológicas algumas escritas em paredes, que possivelmente são versos e poesias que as “gurias” escreviam para que pudessem representar seus sentimentos e ideologias, como nesse verso de uma menina do século I:
“...Luz minha, que eu não seja mais teu amor ardente, como me parece era até há poucos dias
se em todo o tempo da minha juventude cometi um erro do qual – confesso -
tanto me arrependi: ter-te deixado só a noite passada porque queria esconder o meu ardor. ...” (FUNARI; pg.104, 2001).
Do ponto de vista jurídico a mulher era tratada como um ser inferior e subjugado, passando da autoridade do pai para a autoridade do marido, que se caso morresse, passavam então para a autoridade dos irmãos. Segundo a mentalidade romana, as meninas tornavam-se mulheres aos quatorze anos, apesar de se casarem com doze anos, sendo que a partir daí viviam enclausuradas no lar não podendo estudar mais, muito menos filosofia que levaria a libertinagem e corromperiam as mais novas também quebrando as regras sociais romanas da virgindade “sacrossanta”.
Já os “guris” possuíam uma relativa liberdade, poderiam seguir estudando, entrar para o exército aos dezesseis, os que desejassem poderiam ocupar altos cargos públicos com dezessete anos, em suma detinham várias liberdades a mais em relação as jovens. Também podiam praticar esportes, como natação, esgrima, se associavam a anfiteatros para caçar feras, tinham sua iniciação sexual dos doze aos vinte onde já freqüentavam prostitutas, torciam pelos gladiadores, faziam arruaça abusando de seus nomes e prestígios de sua posição social para fazerem desordens públicas, sendo que esta vida agitada e turbulenta terminava quando esses jovens casavam.
Segundo uma carta datada do século II ou III, um senhor pede ao deus Mercúrio que puna quem o roubou, tendo nesta carta inscrições que comprometam pequenos infratores, dando a entender a existência de furtos por parte de jovens/crianças naquele período do império, como mostra a carta:
“...Honorato, para o deus Mercúrio.
Queixo-me à sua divindade de um roubo de duas rodas e quatro vacas, assim como diversos pequenos bens pessoais, retirados do meu casebre.
Peço ao espírito da sua divindade que não permita que a pessoa que me fez mal tenha saúde, nem permita que deleite, sente, coma ou beba, seja homem ou mulher, garoto ou garota, escravo ou livre, enquanto não me devolver o que a mim pertence e que se reconcilie, assim, comigo. Com reiteradas preces, peço à sua divindade que meu pedido faça, imediatamente, justiça, graças ao seu poder...” (FUNARI; pg.60, 1993).
É curioso e especulativo que, era comum a realização de bailes, porém os homens adultos não participavam, pois era um insulto chamar um romano de “dançarino”, portanto estes bailes formavam uma manifestação que aconteciam em prol somente de alguns dos ditos “marginalizados”, as crianças e as mulheres. É plausível que nas férias as crianças e os jovens assim como os adultos iam pescar e caçar, formando estas atividades uma tipologia de “hobby” romano, como Ferreira traça algumas particularidades destas atividades:
“... Em suas caçadas, usavam fundas, redes, lanças e também cães; nas pescarias, realizadas inclusive no mar, eles se equipavam com tridentes e redes. Muitos preferiam a pesca com anzol e linha, como em nossos dias...” (FERREIRA; pg.25, 1993).
Sob as leis do direito romano os filhos e filhas estavam sob tutela do pai até a morte deste, mesmo que se casassem antes. O filho podia ser emancipado e receber um pecúlio
14 do pai, porém depois de emancipado não poderia retornar para essa família, uma vez que para emancipar era necessário renunciar o culto doméstico da família e assim não teria mais direito sobre a religião e nem a herança.
Pensando sobre a presença das crianças em Roma no tempo do império romano, é importante fazer um estudo sobre o que representava a instituição família, sendo perceptível sua complexidade, como mostra um historiador:
“...Os romanos usavam a palavra família, que em português é a mesma, para falar de algo muito mais amplo do que nós. Os romanos chamavam de família tudo o que estava sob o poder do pai de família e que dividiam em três grupos: os animais falantes, os mudos ou semifalantes e as coisas. Assim, o pai possuía mulher, filhos e escravos como animais falantes, vacas e cachorros como animais semifalantes e suas casas e mobília como coisas...” (FUNARI; pg.98/99, 2001).
A fase infanto-juvenil terminava teoricamente quando os casamentos aconteciam, é dito que terminavam na teoria por que na prática os corpos continuavam os mesmos de crianças de doze a quinze anos. Nas vésperas do casamento, tanto os “guris” quanto as “gurias” faziam uma espécie de ritual onde ofereciam seus brinquedos em dedicatória aos deuses que haviam lhes protegido na infância, e esta ação simbolizava na mentalidade romana como a passagem do “ser criança” para a fase adulta.
Os casamentos aconteciam relativamente muito cedo em relação à idade dos noivos, que perdiam assim boa parte de sua infância. Isso ocorria devido à mentalidade ali presente, onde o pai era o chefe da família, e sua moral era acreditada na permanência de uma vida post-mortem
15, portanto as celebrações e cultos para os que morriam era considerado de suma importância, tendo a partir daí uma grande preocupação com a continuidade da família que então por isso o pai assegurava essa permanência familiar a partir dos casamentos dos filhos que aumentaria a família cada vez mais através do nascimento de crianças e assim nunca teria uma ruptura do culto doméstico aos mortos, afinal era o culto que assegurava a imortalidade da vida dos membros da família após a morte.
A partir da visão cristã, deveria existir um certo cuidado ao casar-se, pois o casamento era monogâmico e indissolúvel, sendo condenado o adultério e as formas diversas de obter o prazer sexual, segundo Santo Agostinho: “...se um homem estivesse enamorado demasiadamente por sua própria esposa era adultério...” (MOCELLIN; pg.52, 2000).
O celibato
16na sociedade romana desse período17 não era proibido, porém a visão social do celibato continuou na mentalidade da sociedade como algo passível de punição, pois “...o homem não se pertencia, mas pertencia a família...” (COULANGES; pg.46,1998); e sendo assim o casamento era:
“...assim, obrigatório. Não tinha por fim o prazer; o seu objeto principal não estava na união de dois seres mutuamente simpatizantes um com o outro e querendo associar-se para a felicidade e para as canseiras da vida. O efeito do casamento, à face da religião e das leis, estaria na união de dois seres no mesmo culto doméstico, fazendo deles nascer um terceiro, apto para continuar esse culto...” (COULANGES; pg.47, 1998).
Os bens, a casa
18, a propriedade da terra19, o culto20, e tudo que pertencesse à família passaria para o filho homem e não para as filhas. O filho não herdaria, apenas continuaria a administrar a família patriarcal, funcionando este fato em algo praticamente automático na linhagem dos homens, para assim perpetuar o culto, a propriedade e a família, uma vez que a filha se casasse ela não mais fazia parte desta família e deste culto, mas sim de seu marido e da família dele, este é o aspecto que fundamenta a exclusão das filhas em herdarem qualquer coisa material ou imaterial, como comenta Coulanges:
“...A regra estabelecida para o culto é que se transmita de varão em varão, e a regra para a herança é que esteja em conformidade com o culto. A filha não se considera apta para continuadora da religião paterna, pois casa e, casando-se, abjura do culto de seu pai para adotar o do esposo: não tem, portanto, nenhum título à herança. Se acontecesse algum pai deixar os bens à filha, a propriedade ficaria divorciada do culto, e tal fato não pode admitir-se. A filha não poderia mesmo cumprir o primeiro dever do herdeiro, ou seja, o de continuar a série das refeições fúnebres, pois só aos antepassados de seu marido virá oferecer os sacrifícios. A religião proíbe-lhe, pois, herdar de seu pai...” (COULANGES; 71, 1998).
Porém, as filhas herdavam em alguns casos, raríssimos, se o pai fizesse de sua vontade um testamento deixando algum bem a filha seria assim aceito na comunidade. Já se não houvesse testamento e o pai falecesse deixando apenas uma filha única, essa teria de casar com o parente do pai mais próximo, geralmente o tio, e se a filha fosse única e já estivesse casada deveria divorciar-se e casar então com o tio, que também teria de divorciar-se se estivesse casado. Assim é perceptível como a religião impôs práticas sobre a sociedade
21 romana antiga, práticas hoje ditas contra a natureza, uma vez que manipulava as coisas, os objetos e os destinos das pessoas.
Pensando as crianças romanas a partir das imagens que as retratam na historiografia é perceptível sua presença no meio social cotidiano e alguns de seus hábitos, uma vez que estas participavam de algumas práticas culturais desenvolvidas nas cidades do império romano, principalmente Roma. Como é notável através das imagens apresentadas no final deste artigo à presença infantil nos mercados públicos, nos teatros, nas escolas, nos cultos, nos circos, em meio à família, nas caçadas, em meio aos brinquedos, nas latrinas públicas, nos anfiteatros
22, nos banhos públicos23, nas brincadeiras coletivas de bola dos meninos, nas brincadeiras da seda particularmente das meninas, na aprendizagem do caminhar, em meio a aulas com seus mestres pedagogos, a presença infantil nas oficinas de trabalhos escravos, no âmbito familiar, nos brinquedos com animais vivos, no momento de alimentação, no nascimento, os instrumentos de escritas nas aulas, estas imagens formam alguns aspectos que retratam a infância romana, porém ficam alguns questionamentos não respondidos, como questões acerca das crianças que viviam nas ruas e das crianças escravas. Também de destaque a presença infantil na própria criação de Roma, que teria sido criada por Rômulo e Remo, sendo duas crianças que foram atiradas ao Rio Tibre, tendo suas vidas salva por uma loba24 que os amamentou e cuidou, sendo eles criados depois por um pastor.
As crianças eram importantes para os romanos sim, porém é bastante visível a representação da criança enquanto um adulto em miniatura, assim é abordado na historiografia os aspectos infantis com uma generalidade entre as praticas adultas desde o nascer até o morrer, essa iconicidade representada que foge ao real objeto retratado aconteceu devido à mentalidade e as ideologias dessa sociedade, afinal o ideal era ser adulto para assim dar continuidade à família, que por sua vez formava a instituição mais complexa e importante na Roma-imperial.
Os brinquedos e as brincadeiras utilizadas pelas crianças durante a infância faziam representatividade as práticas culturais cotidianas dos adultos, isso mostra que as crianças brincavam bastante, mas os brinquedos já agiam como meros aparelhos ideológicos que visavam moldar os “pequenos adultos” em seus comportamentos e mentalidade, uma vez que se projetava nas crianças o ideário romano de ser adulto perpetuador dos valores culturais e morais da família e do culto doméstico. Nesse contexto percebe-se a complexidade estabelecida pela família romana que agia diretamente sobre as crianças manipulando-as, indubitavelmente não se pode tratar das crianças da antiguidade romana sem falar da família, da religião, das leis e do casamento que as envolviam tão cedo, sendo assim as crianças objetos naturais bastante importantes nesta sociedade, nem tão importante foi à fase especulativa denominada infância.

Referências bibliográficas
ARIÈS, Philippe; DUBY, Georges; O Império Romano. In: História da vida privada: Do Império Romano ao ano mil; São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
BOURBON, Fabio; Aspectos da Civilização Romana. In: A Roma Antiga; Barcelona: Ediciones Folio, 2005.
BOVO, Elisabetta; Arte e Literatura: Europa Mediterrânea. In: A época do Império romano; Barcelona: Ediciones Folio, 2007.
COULANGES, Fustel de; A família. In: A Cidade Antiga; São Paulo: Martins Fontes, 1998.
FERREIRA, Olavo Leonel; Visita à Roma Antiga; São Paulo: Moderna, 1993.
FUNARI, Pedro Paulo; Roma. In: Grécia e Roma; São Paulo: Contexto, 2001.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu; Roma: Vida pública e vida privada; São Paulo: Atual,1993.
1 Graduando do curso de licenciatura plena em História pela FACCAT-Faculdades Integradas de Taquara (Junho de 2008).
2 Este bebê que nasceu através desta cirurgia inovadora foi o Nero, que cresceu e tornou-se imperador.
3 Ato, ação denominada “tollere”.
4 Prática usada durante a relação sexual, onde uma escrava levava um vaso para que o casal se limpasse e fizesse uma lavagem, na tentativa de prevenir a gravidez através da retirada ou bloqueio do esperma.
5 Imagens anexadas ao final deste trabalho.
6 Idem.
7 Escrava (o), que servia como uma espécie de babá, sendo que nas famílias mais abastadas eram gregas.
8 Escravo (a), que servia como professor, sendo geralmente latinos.
9 Anexadas ao final deste trabalho.
10 Instituição reconhecida e mantida pelo Estado, que funcionava de acordo com o calendário religioso.
11 Na concepção romana da antiguidade, significa pessoa que sabe escrever só para si mesmo.
12 Na concepção romana da antiguidade, significa pessoa que sabe escrever para os cultos.
13 Pater famílias, autoridade máxima nessa instituição denominada família.
14 Uma determinada quantia em dinheiro.
15Uma vida contínua além da morte.
16 É o estado de uma pessoa solteira, sexualmente abstinente, que fez voto de castidade.
17 Séculos I, II e III d.C. .
18 Nas construções das casas, a obra se guiava a partir do local onde se realizariam o culto doméstico, tendo este espaço ocupado a área central das casas.
19 A idéia de propriedade privada da terra era baseada no campo onde a família enterrava seus mortos e ali os cultuavam, portanto o túmulo era objeto marcante de uma propriedade privada.
20 O culto assegurava a religião doméstica, que constituía a base maior da família romana, pois era através dela que se reconhecia todo o parentesco e estabelecia o direito da propriedade.
21 É interessante salientar que estes aspectos promovidos pela religião, ou pelo culto doméstico, não foram executados só exclusivamente pelos romanos, mas também pelos atenienses na Grécia e pelos hindus na Índia.
22 Presença infantil a partir dos doze anos de idade.
23 Idem.
24 Verdade ou não, a prostituta era vista pelos romanos através da representação de uma loba, devido ao apetite sexual da fêmea do lobo.

Um abraço a todos.

Bem vindo à vida!

Acaba de nascer mais um blog...
Hoje quando pensava em como são difíceis as almejadas publicações me lembrei do meu amigo "Jornaleiro", que publica o que pensa sem censuras, repressões, "burrocracias" e etc... Realmente, o blog é uma ferramenta formidável para nos expressarmos, pesquisei e verifiquei que tem "blogs e blogs", ou seja, de todos os assunto possíveis.
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Este blog, como ja se vê intitulado "Recortes da História", buscará especificamente abordar assuntos pertinentes à comprensão da História, e a leitura do mesmo fica a cargo de quem quiser, afinal de contas torna-se aqui público*.
*(Obs: Críticas e sugestões serão muito bem vindas!)
Um abraço a todos.
Profº Uriel.